quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Senhor Juquita e seus botões

Uma pequena parte da história de como o futebol de mesa chegou a Londrina


Em 22 de agosto de 1976, o Estádio Jacy Scaff, mais conhecido como Estádio do Café, foi inaugurado. O jogo de estréia foi entre os times do Londrina e do Flamengo. Uma partida marcante, com cerca de 50 mil espectadores e que ainda está na memória de muitos torcedores do Tubarão.

No dia 3 de outubro de 2009 o confronto se repetiu! Isso mesmo: Londrina e Flamengo se enfrentaram. Só que desta vez a peleja não se deu nos gramados, mas, sim, na mesa, em uma partida de futebol de botão entre dois garotos: Juquita, de 71 anos, e Zé Luiz, de 64.

José Luiz Negreti, com o time azul e branco do Londrina, é paulistano e torcedor do Palmeiras. “Mas também sou Tubarão”, garante. Chegou a Londrina em 1981. “Conheci o Juquita logo que cheguei aqui. Fiquei sabendo sobre um torneio de futebol de mesa e fui me inscrever. Ele sempre esteve na organização de tudo”, diz Zé Luiz sobre como a amizade começou.

No comando dos botões do Flamengo estava José Grossi Sobrinho, o senhor Juquita. “Torço para o Londrina, mas meu primeiro time é o Mengão”, avisa. Nascido em Juiz de Fora, em Minas Gerais, Juquita veio para Londrina em 1964. E, com ele, a paixão pelo futebol de botão. “Desde garoto, quando eu tinha uns oito anos, que eu brinco. Naquela época não existia estrutura nenhuma, mas eu nunca coloquei um time meu no chão. Sempre jogávamos em campos feitos de madeira e papelão”, alerta senhor Juquita. O improviso e a imaginação era o que contava.

O futebol de botão foi inventado em 1930, no Rio de Janeiro e depois se espalhou pelo Brasil. No começo, as peças eram feitas dos botões das próprias roupas. Depois, de outros materiais, como madeira, casca de coco, vidro de tampa de relógio, plástico... Até hoje, com as peças feitas artesanalmente em acrílico.

De tanta alteração, a brincadeira se tornou séria. Em 1988 o futebol de botão adotou a nomenclatura oficial de futebol de mesa e passou a ser considerado esporte de salão pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), assim como o xadrez e o bilhar, por exemplo. Esporte ou não, Juquita mantém viva a fantasia da brincadeira. “Botão, para mim, é diversão. É lugar de amigos”, define.

E as amizades feitas pelas mesas não foram poucas. Victor Heremann, atual campeão da Copa do Brasil e presidente da Federação Paranaense de Futebol de Mesa, fala de Juquita como se a história do esporte fosse mais vazia sem ele. “O Juquitão foi o grande precursor do futebol de mesa em nossa cidade. Costumo dizer que se não fosse ele, talvez Londrina não tivesse o esporte até hoje”.

Jeferson Aparecido de Carvalho, um dos botonistas que estão no topo do ranking paranaense na atualidade, completa ao dizer que “Juquita é, na verdade, a gênese. Todo mundo que joga em uma mesa em Londrina só o faz porque um dia esse senhor resolveu investir nesta paixão, décadas atrás”.

A paixão de Juquita por este esporte é tão grande que ele mantém, em sua casa na Zona Oeste de Londrina, um quarto quase que dedicado integralmente ao botão. Lá, existe – além da mesa de jogo – uma estante repleta de livros e de todos os troféus conquistados. “Nem todos os prêmios são meus. Aí tem coisa de toda a família. Este aqui, por exemplo, é do Ernani”, avisa o senhor Juquita, ao mostrar uma taça conquistada em um torneio de futebol de mesa pelo filho.

Ernani ilustra o esforço de seu pai, senhor Juquita, para fortalecer as bases deste esporte, ao puxar alguns fatos pela memória: “Nas primeiras lembranças da minha vida, está meu pai comprando livros de regras de futebol de mesa em São Paulo. Ele trocava cartas com os autores e marcava amistosos quando viajava a negócios. Foi sempre falando em botão que aos poucos ele reuniu adeptos e começou a realizar alguns campeonatos em Londrina”.

A Federação Paranaense de Futebol de Mesa é a mais antiga do Brasil e existe desde 1963. Atualmente sua sede está em Londrina. “Esse pessoal que está conduzindo o futebol de mesa de hoje é muito apaixonado. Não é a toa que o Paraná está aí, como referência no botão”, diz Juquita, com confiança naqueles que comandam o esporte atualmente.

Quem quiser praticar o futebol de mesa em Londrina pode acessar os endereços seguintes na internet: www.futmesapr.com e www.ligauniao.blogspot.com e marcar uma visita ao centro de treinamentos, sediado no Grêmio Literário e Recreativo Londrinense.

Ah! E sobre a partida entre o Flamengo, de Juquita, e o Londrina, de Zé Luiz? Terminou empatada em 1 a 1. Coincidentemente o mesmo placar daquele jogo em que o jogador Paraná abriu o placar para o Tubarão e o lateral Junior – aquele mesmo, de bigodinho, da seleção brasileira – igualou para o time carioca. Jogo empatado, a vitória foi do futebol de mesa londrinense, que tende a crescer.


Reportagem de Giovanni Nobile Dias, jornalista de Londrina.
Editor do blog sobre jornalismo e literatura Press Tensão (http://www.presstensao.blogspot.com/).
 
 
Gol neles...

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria Luiz e Giovanni!

Sem dúvida o Sr. Juquita e o Zé Luiz tratasão dois ícones do nosso amado esporte!

Homenagem mais do que mrecida!

Grande abraço

Victor Heremann.

Emerson disse...

Excelente reportagem. Quero deixar registrado , que, precisamos reunir todas as HISTORIAS e deixar registrado, como legado do Futmesa do Pr.Temos um bela história , porem , muitos não a conhecem por completo.Abraços

SEXTA BOLA disse...

A política do SEXTA BOLA é a já consagrada "bobeou, tá na net", é só mandar que a gente publica...hehehe...mas é fundamental que o pessoal que já tem mais km rodados no esporte colabore com o trabalho.

Gol neles...

Ernani disse...

POXA FIQUEI EMOCIONADO!
Claro que são dois nomes do norte do paaná e sem dúvida deve ter outros em Curitiba também e acho excelente idéia registrarmos tudo que pudermos pois a história é algo que todos gostamos de recordar.
Parabéns a todos os envolvidos novamente

Luiz disse...

Conteúdo com certeza não falta Ernani...
Fico feliz quando a gente consegue (re)despertar nas pessoas a emoção através do futmesa, nosso esporte tem uma história riquíssima, e história é feita pra contar, e pra continuar escrevendo-a...
Ficou muito boa a matéria, umas das postagens que eu mais gostei de fazer até agora, parabéns ao Giovanni que produziu o material.